Nova Ordem Mundial

Nova Ordem Mundial
Nova Ordem Mundial, do Angeli

sexta-feira, 21 de março de 2008

A RELATIVIDADE DOS CONCEITOS

Tenho duas observações a fazer sobre o campo teórico da esfera internacional. Sinto um enorme vácuo na formulação dos conceitos que abrangem esta área. Por exemplo, não sei muito bem o conceito de "raça" (embora saiba que a raça em si não mais existe), o conceito de racismo e, o mais crítico de todos, o conceito de nacionalismo e terrorismo. De quem é a competência para definir estes conceitos? São conceitos amplamente disseminados erroneamente por jornalistas (e muitos nem se preocupam com isso, pois é tarefa da área de Ciências Sociais, mas enfim, também nos atinge...) Estes conceitos são muito fragmentados, não há uma unidade, uma coerência lógica entre eles. O que podemos perceber deste vazio é que ele é preenchido pela concepção ideológica de cada cientista, por exemplo, se um teórico marxista for descrever o que é fundamentalismo, ou terrorismo, terá uma visão. Mas confira estes conceitos ao serem defendidos por um teórico anarquista, ou liberal, a questão muda de figura. O fato é que estamos aqui lidando com Ciências Humanas e como o próprio nome já diz, não é exata e portanto "a relatividade" dos conceitos é maior... Proponho aqui a formulação de um novo tipo de ciência: "Ciências Internacionais". Fica aí a proposta. E está passando da hora.
Minha segunda observação sobre o vácuo no campo das referências teóricas foi sobre a fragilidade e a não-sustentação de alguns conceitos. Como posso dizer que as "fronteiras nacionais são inventadas", que "as identidades são fabricadas", que o próprio conceito de "política" foi forjado? Vou começar a achar que eu mesma não existo, esta aqui que vos escreve é uma "projeção do inconsciente de um grupo de leitores que gostariam de ler sobre este assunto e me criaram, então eu também não existo senão em um ambiente virtual". O vocabulário internacional tem destes problemas técnicos. Mas qual deve ser minha referência quando tudo é relativo? O que é "o real" quando o próprio conceito de "real" é relativo? Posso dizer que "o real" é simplesmente uma crença individual subordinada ao tempo e ao espaço? Então, "o real" é relativo, cada pessoa cultiva o que considera real. Sendo assim, sendo o real uma invenção de nosso imaginário, nossa existência está condicionada ao nosso imaginário.

Mas aí surge outro problema: se o real é relativo, as leis e a constituição também o são. Vejamos um exemplo: para mim, eu posso matar alguém e usar minha religião como justificativa, ou usar a desculpa de que precisava matar para roubar esta pessoa e assim comprar comida para meus filhos que estavam morrendo de fome... Sendo assim, meus atos estão subordinados à minha realidade, então, posso matar e estará tudo bem. Sendo assim, as leis e a constituição que regulam o convívio social não fazem sentido, pois cada um deveria seguir a sua própria realidade... Complicado isso: minha realidade particular deve se sobrepor às instituições que regulam a sociedade (pensem nas consequências disto) ou as normas, regras e tudo mais deve conduzir meu comportamento em sociedade?

NOSSAS FRONTEIRAS IMAGINÁRIAS - NOSSOS RANCORES IMAGINÁRIOS

Nas últimas semanas acompanhamos alguns episódios que têm se tornado cada vez mais comuns desde o século XX. Brasileiros que viajavam para a Espanha foram impedidos de entrar no país e deportados para o Brasil. Em resposta, o Brasil procedeu da mesma forma, deportando espanhóis que quisessem entrar no país. Uma crise diplomática? Uma crise de fronteiras? Qual a relação desta crise com aquela desencadeada pela Colômbia que invadiu o território do Equador com a justificativa de combater as FARC? Estes dois episódios demonstram uma radicalização dos sentimentos nacionalistas na preservação de fronteiras de um país, algo que, se fosse pensado há algum tempo quando as fronteiras ainda não haviam sido "construídas" ou "imaginadas", não faria o menor sentido. Essa questão foi retratada no livro "Nações e nacionalismos desde 1780", por Eric Hobsbawm. Gostaria ainda de ilustrar este episódio com um trecho retirado do livro "Jornalismo Internacional", do João Batista Natali:
"Se hoje um determinado país estrangeiro invadir nosso território, nós nos sentiremos inequivocamente aviltados em nosso nacionalismo. O estado-nação é, em nosso imaginário, algo inviolável. Pois bem: no finzinho do século XVIII e no começo do século XIX inexistia na cabeça das pessoas algo assemelhado ao nacionalismo tal como ele funciona hoje, com seus múltiplos discursos que atribuem identidade a determinado povo e segregam as comunidades internas e externas que não fazem parte dele." Estes conceitos que vêm sendo amplamente discutidos na esfera internacional e regem os principais conflitos mundiais contemporâneos são frutos desta "construção de fronteiras imaginárias", algo impensável antes da Revolução Francesa. Podemos dizer que à medida em que o homem impôs alguns limites geográficos, foram gerados sentimentos ultranacionalistas e de repulsa às comunidades que não estivessem dentro destas fronteiras. Como consequência, podemos verificar o racismo, a xenofobia, as políticas de restrição à imigrantes... No aspecto prático, as várias guerras travadas e os movimentos separatistas.

domingo, 9 de março de 2008

Panorama da Semana – 1 a 9 de Março

Nesta semana a notícia de destaque no cenário internacional foi a crise diplomática envolvendo três países da América Latina: Colômbia, Equador e Venezuela. Esta crise teve início no assassinato do número 2 das FARC, Raúl Reyes, por militares colombianos em território equatoriano. Este fato foi duramente rechaçado pelo presidente do Equador, Rafael Corrêa que acusou a Colômbia de violação dos príncípios do direito internacional ao ultrapassar a fronteira do seu país, ferindo a soberania do Estado. Após o assassinato de Raúl Reyes, o material apreendido forneceu evidências de um vínculo entre as FARC e o presidente da Venezuela Hugo Chávez. Uribe acusou Chávez de financiar a “guerrilha terrorista” FARC e estes episódios resultaram na expulsão de representantes diplomáticos da Colômbia que estavam no Equador e na Venezuela. O episódio não se resume em um fato isolado, mas na consequência de “barril de pólvora”, prestes a explodir. Apesar de grande parte da mídia defender o argumento de que as FARC são uma guerrilha terrorista envolvida com o narcotráfico, este argumento é insustentável. A realidade, segundo observadores mais atentos, é que o governo colombiano se aliou aos EUA com o objetivo de dominar as FARC, mas, até então, qual é o interesse estratégico dos Estados Unidos nesta história? Pelo que conhecemos, a política externa imperialista norte-americana se envolve em questões internas de outros países, desde que isto interfira em seus interesses. Os Estados Unidos passam por uma séria crise financeira, derivada do mercado de crédito imobiliário, resultando em prejuízos bancários, como os divulgados recentemente pelo Citybank e pelo Merrill Lynch. As reservas externas americanas têm capacidade para mais um ano. Depois deste período, os EUA estarão dependentes dos países exportadores de petróleo e nada mais lógico que buscar “parceiros” nesta empreitada. Antes da Colômbia, a alternativa foi o domínio das reservas de petróleo do Iraque, baseada na justificativa de uma guerra contra o terrorismo e, parece que, por lá não alcançaram este objetivo. Então, resolveram investir na segunda opção: Colômbia. Mais uma vez a justificativa foi a mesma: guerra contra o terrorismo. Alguém saberia me dizer, porque é tão difícil definir o conceito de terrorismo? A própria ONU não tem interesse em ser clara. Se definirmos o conceito, o principal prejudicado seriam os Estados Unidos, que cometem atos terroristas em nome da defesa da democracia. Que tipo de democracia é esta que intervém na política interna de diversos países, algo que foge de sua competência e institui prisões como Guantánamo e Abu Graib, que ferem o direito de defesa do cidadão impedindo-o de ter um julgamento justo? “Façam o que eu digo mas não façam o que eu faço”, são os princípios básicos da política externa norte-americana. Os interesses dos EUA no Iraque foram “projetados” para a Colômbia no intuito de garantir suas reservas de petróleo. E a guerra contra o terrorismo e a favor da democracia é um pretexto um tanto plausível. Depois da intervenção da OEA na tentativa de solucionar o conflito, me parece que agora, a hostilidade será amenizada. Mas a qualquer momento pode voltar. O que podemos concluir desta situação é que Álvaro Uribe e as forças imperialistas dos Estados Unidos estão perdendo suas forças. E o cenário continua o mesmo. De um lado, FARC, Equador e Venezuela e do outro, Colômbia e Estados Unidos.
Somente um parênteses da cobertura da mídia brasileira neste caso. Foi intensamente abordado qual deveria ser a posição do Brasil neste conflito. Não acredito que o Brasil se manifestará de alguma forma, nem ao lado da Colômbia e muito menos ao lado da Venezuela e Equador. A política externa brasileira se caracteriza pelo seu pragmatismo, portanto, qualquer um dos lados que o Brasil se posicionar pode lhe trazer prejuízos. Acho que não vai sair do lugar. O risco de se comprometer é grande. É o típico: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Mas alguma posição o bicho tem que tomar.
P.S. Para quem quiser se informar melhor sobre democracia, o canal Futura está com uma programação bem diversificada, com vários documentários sobre este assunto e serão exibidos o ano inteiro. A revista “Le Monde Diplomatique” do mês passado trouxe algumas matérias interessantes sobre o assunto. Sobre terrorismo, a revista “Entre Livros” trouxe no ano passado uma edição especial sobre o assunto. Fontes, referências, tem de tudo um pouco.